A localidade de Bobole, no distrito de Marracuene, província de Maputo, foi palco de uma onda de violência que paralisou a Estrada Nacional Número Um (EN1) desde as primeiras horas da manhã. O incidente começou quando um agente da Polícia da República de Moçambique (PRM) foi acusado de ter alvejado mortalmente uma criança durante uma perseguição.
A tragédia ocorreu por volta das 05h00, quando o polícia, em plena operação de interceção a uma viatura proveniente da África do Sul, disparou contra o veículo em fuga. Contudo, um dos tiros atingiu um menor que se encontrava nas imediações, causando-lhe morte imediata.
A notícia espalhou-se rapidamente e gerou grande revolta popular. Moradores, revoltados com a morte da criança, capturaram o agente em plena via, na zona de Castro, em Bobole. O que se seguiu foi uma ação de justiça popular extrema: o agente foi linchado e, minutos depois, queimado vivo pela multidão enfurecida, num cenário de grande tensão.
Por volta das 06h00, a EN1 já se encontrava bloqueada em ambos os sentidos, com longas filas de carros, autocarros e camiões retidos. Passageiros foram obrigados a esperar horas, enquanto a população erguia barricadas e impedia a passagem de viaturas como forma de protesto contra o que consideram “excessos e abusos recorrentes da polícia”.
Segundo relatos de testemunhas, o momento foi de gritos, choros e revolta. Algumas pessoas tentaram apelar à calma, mas o clima de fúria popular tornou-se incontrolável.
As forças policiais tentaram intervir, mas o risco de confrontos maiores obrigou a recuar momentaneamente. Fontes locais avançam que reforços policiais e militares foram destacados para a zona, com o objetivo de repor a ordem e reabrir a estrada.
O corpo da criança foi levado para a morgue do hospital de Marracuene, enquanto o cadáver do agente permanece sob custódia das autoridades.
👉 Este caso volta a expor a frágil relação entre a população e a PRM, sobretudo em zonas periféricas, onde moradores denunciam frequentemente casos de uso excessivo da força, corrupção e má conduta policial.
Alguns líderes comunitários já apelaram à calma, pedindo à população para permitir que a justiça siga os trâmites legais. No entanto, a desconfiança em relação às instituições oficiais é visível, e muitos temem que o caso seja abafado.
Por sua vez, organizações de direitos humanos condenaram tanto a ação policial que resultou na morte da criança, quanto o linchamento brutal do agente, alertando que a escalada de violência só aprofunda a instabilidade e mina os esforços de paz social.
O governo provincial de Maputo ainda não se pronunciou oficialmente, mas fontes indicam que uma comissão de inquérito poderá ser criada para investigar os factos e responsabilizar os envolvidos.
Até ao momento, o balanço oficial aponta para duas mortes confirmadas: a da criança baleada e a do agente queimado pela multidão. Não há confirmação de feridos adicionais, mas teme-se que o ambiente tenso possa gerar novos confrontos.
A EN1, considerada a “espinha dorsal” que liga o norte ao sul de Moçambique, continua condicionada ao trânsito, afetando centenas de passageiros e transportadores que permanecem retidos no local.
A situação permanece em atualização, com toda a atenção voltada para Bobole, onde a comunidade ainda aguarda respostas concretas das autoridades.
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