Os profissionais de saúde afetos ao Hospital Central de Nampula (HCN), uma das maiores unidades sanitárias do norte de Moçambique, anunciaram a sua intenção de iniciar uma greve silenciosa a partir do dia 1 de Julho de 2025, caso as suas preocupações não sejam atendidas.

Segundo informações recolhidas junto de fontes hospitalares, os médicos comunicaram que, a partir da data anunciada, irão abandonar os postos de trabalho diariamente às 15h:30, recusando-se a realizar horas extraordinárias, que normalmente servem para garantir a continuidade dos atendimentos em situações de urgência ou sobrecarga.

O protesto, segundo explicaram, será ordeiro, sem manifestações públicas, mas com impacto significativo na assistência médica, especialmente no atendimento pós-laboral.

Entre os motivos que levaram os médicos a tomar esta decisão estão:

Condições precárias de trabalho, que incluem falta de materiais básicos e equipamentos médicos;

Atrasos recorrentes no pagamento de subsídios e horas extras;

Excesso de carga horária sem compensação adequada;

E ausência de diálogo efetivo com a direção do hospital e o Ministério da Saúde.

Um dos profissionais, sob anonimato, afirmou que “o silêncio será a nossa forma de gritar. Estamos cansados de promessas. Queremos dignidade no exercício da nossa função”.

A direção do hospital ainda não se pronunciou oficialmente sobre a ameaça de greve, mas fontes internas indicam que já foram realizados contactos com o Ministério da Saúde para tentar encontrar uma solução antes da data prevista.

A Associação Médica de Moçambique (AMM) também já foi notificada pelos médicos do HCN e está a acompanhar de perto a situação. Em nota, a AMM considera legítima a reivindicação e apelou ao governo para estabelecer um canal de diálogo antes que o clima se deteriore.

Especialistas temem que a paralisação silenciosa afete negativamente os serviços de urgência, internamento e cirurgia, que dependem fortemente da presença prolongada dos médicos além do horário oficial.

Além disso, esta forma de protesto poderá alastrar-se a outras unidades de saúde da província e mesmo a nível nacional, caso não haja resposta rápida e eficaz por parte das autoridades competentes.

A população, por sua vez, expressa preocupação e apreensão face à possível redução de assistência médica nos próximos dias. Muitos utentes afirmam que já enfrentam dificuldades nos atendimentos, e receiam que a situação piore caso a greve se concretize.

Recorde-se que o Hospital Central de Nampula é referência regional e atende milhares de pacientes provenientes não só da cidade, mas também de várias províncias do norte do país, como Cabo Delgado, Niassa e Zambézia.

A greve silenciosa anunciada pelos médicos ocorre num contexto em que o setor da saúde moçambicano tem sido alvo de constantes denúncias sobre má gestão, falta de recursos e sobrecarga dos profissionais.

Nas redes sociais, o anúncio da paralisação gerou debates acesos entre cidadãos que apoiam a luta dos médicos e outros que temem as consequências para os doentes.

Até ao fecho desta edição, o Ministério da Saúde não havia emitido qualquer comunicado oficial, mas fontes próximas indicam que uma reunião de emergência poderá ser convocada ainda esta semana para tentar evitar a paralisação.

Caso não haja avanços no diálogo, os médicos afirmam que a greve silenciosa será apenas o início de um processo mais prolongado de reivindicação, que poderá incluir manifestações públicas e suspensão total de serviços críticos.

A comunidade médica em Nampula aguarda com expectativa a resposta das autoridades, enquanto o país observa com atenção o desenrolar desta crise iminente no setor da saúde.