O antigo Presidente da República de Moçambique, Armando Emílio Guebuza, manifestou nesta segunda-feira (26) sua inquietação perante os recentes encontros entre o atual Chefe de Estado, Daniel Chapo, e o líder do partido Nova Democracia, Venâncio Mondlane, conhecido popularmente como VM7. A aproximação entre os dois políticos tem chamado a atenção dos bastidores da política nacional e provocado diversas reações dentro e fora da Frelimo.

Sinais de Reconfiguração Política?

O segundo encontro entre Chapo e Mondlane, realizado à porta fechada no último fim de semana, aumentou a especulação sobre possíveis reconfigurações no cenário político moçambicano. Embora nenhum dos lados tenha revelado detalhes específicos das conversas, fontes próximas aos envolvidos apontam para diálogos sobre reformas institucionais, pacificação política e a busca de consensos com a oposição.

Para Armando Guebuza, no entanto, esse tipo de diálogo pode sinalizar uma mudança de rota que exige vigilância. “Moçambique precisa de diálogo, sim, mas é preciso ter cautela com alianças que, por trás do discurso de reconciliação, possam enfraquecer a estabilidade partidária e o respeito pelas instituições”, disse o ex-presidente em declarações à margem de um evento social em Maputo.

Histórico de Tensão

A relação entre a Frelimo e Venâncio Mondlane sempre foi marcada por tensões. Ex-membro da Renamo e figura carismática entre os jovens, Mondlane tem se posicionado como voz ativa da oposição e crítico feroz do sistema instalado. Sua recente liderança na Nova Democracia reforçou sua imagem de político reformista.

Por isso, a disposição de Daniel Chapo em manter um canal aberto com VM7 é vista, por uns, como sinal de maturidade política e, por outros, como um risco de enfraquecimento da hegemonia histórica da Frelimo no poder.

Guebuza em Alerta

Fontes próximas a Guebuza indicam que ele vê os encontros como um movimento estratégico de Mondlane para se projetar como uma alternativa legítima ao poder, aproveitando-se da abertura política promovida por Chapo. O antigo presidente, que liderou o país entre 2005 e 2015, tem defendido nos bastidores a preservação da identidade e da coesão interna da Frelimo, em um momento em que o partido enfrenta críticas sobre renovação de lideranças e perda de influência junto ao eleitorado jovem.

“Não podemos permitir que, em nome do diálogo, se abra espaço para agendas paralelas que fragilizem o partido. A juventude precisa de líderes, mas também de orientação política firme”, teria dito Guebuza em uma reunião restrita com membros influentes da Frelimo, segundo uma fonte partidária.

Chapo Segue em Frente

Apesar das reações, o Presidente Daniel Chapo continua apostando no diálogo como uma via para a consolidação da paz e da estabilidade democrática. Ele tem realizado encontros com líderes de diversos partidos com assento parlamentar, incluindo a Renamo, o MDM, o PODEMOS e agora a Nova Democracia.

Durante seu discurso mais recente, Chapo reforçou que a sua presidência está aberta a ouvir “todas as vozes comprometidas com o desenvolvimento e o bem-estar dos moçambicanos”. Analistas políticos acreditam que essa postura faz parte de uma estratégia mais ampla de reposicionamento do poder executivo perante uma sociedade cada vez mais exigente.

Mondlane Mantém o Mistério

Venâncio Mondlane, por sua vez, ainda não comentou diretamente as declarações de Guebuza. Nas redes sociais, limitou-se a postar uma mensagem enigmática: “A nova geração não teme o diálogo. Caminhamos com coragem.” A publicação foi amplamente partilhada e interpretada como uma indireta ao campo mais conservador da política nacional.

Reações da Sociedade

Entre os cidadãos, as opiniões dividem-se. Há quem veja na postura de Chapo uma lufada de ar fresco na política moçambicana, abrindo espaço para uma maior pluralidade e inclusão. Outros, porém, partilham do receio de Guebuza de que isso possa enfraquecer os pilares partidários e abrir brechas para instabilidades.

“Não podemos ser contra o diálogo, mas temos que saber com quem estamos a dialogar e com que finalidade”, opinou um analista político num programa televisivo nacional.

O Que Vem a Seguir?

O clima político segue em ebulição. Espera-se que, nas próximas semanas, haja novos desdobramentos, especialmente se mais encontros entre Daniel Chapo e Venâncio Mondlane forem marcados. Internamente, a Frelimo deverá reunir-se para avaliar os impactos dessas movimentações e redefinir estratégias.

Enquanto isso, o antigo Presidente Guebuza continua atento e, como uma figura ainda influente nos círculos de poder, pode vir a ter um papel decisivo nas articulações partidárias.