Nos últimos meses, a Polícia da República de Moçambique (PRM) tem recebido diversas denúncias de cidadãos vítimas de esquemas de engano através das redes sociais. Segundo fontes policiais, indivíduos, na maioria homens, têm criado perfis falsos se passando por mulheres com o objetivo de obter benefícios financeiros e informações pessoais das vítimas.
O modus operandi consiste, geralmente, na criação de perfis em plataformas como Facebook, Instagram e aplicativos de mensagens, usando fotos de mulheres, muitas vezes de modelos ou perfis reais roubados, para conquistar a confiança dos homens. Após estabelecer contato, os golpistas passam a desenvolver um relacionamento virtual, explorando a vulnerabilidade emocional da vítima.
Especialistas em cibersegurança alertam que este tipo de fraude, conhecido internacionalmente como “catfishing”, tem se tornado cada vez mais sofisticado. Os criminosos utilizam linguagem persuasiva, fotos editadas e até chamadas de vídeo falsas para simular interações reais.
“É comum que a vítima seja abordada com mensagens de carinho ou interesse romântico e, pouco tempo depois, surjam pedidos de dinheiro sob pretextos diversos, como tratamento médico, passagem aérea ou ajuda em emergências”, explica um oficial da PRM, que pediu anonimato.
Em Maputo, um caso recente chamou atenção da polícia. Um homem, residente no bairro da Coop, alegou ter transferido mais de 50 mil meticais para uma suposta parceira virtual, que se dizia estar em apuros no estrangeiro. Após investigação, a vítima percebeu que a mulher com quem conversava não existia.
A PRM alerta que, além do prejuízo financeiro, estas práticas podem trazer sérios riscos à privacidade e à segurança pessoal. Dados pessoais, fotos e informações bancárias podem ser usadas em outros crimes, incluindo extorsão, chantagem e até roubo de identidade.
Um outro caso em Nampula envolveu um grupo organizado que mantinha perfis falsos de mulheres jovens para atrair homens em fóruns de relacionamentos. Depois de conquistarem a confiança da vítima, os criminosos pediam transferências de valores em dinheiro e cartões de recarga. A operação foi desmantelada pela polícia, com a detenção de três suspeitos.
Segundo psicólogos, o impacto emocional para as vítimas pode ser profundo. Muitos relatam vergonha, depressão e dificuldade de confiar em futuros relacionamentos, mesmo após a descoberta do golpe.
Autoridades aconselham que homens e mulheres redobrem a atenção nas interações online. Alguns sinais de alerta incluem recusa em encontros presenciais, pedidos de dinheiro, pressa em criar intimidade e inconsistências nas histórias contadas.
Especialistas em tecnologia recomendam verificar a autenticidade de perfis, buscar sinais de fotos roubadas com ferramentas de busca reversa e desconfiar de contatos que rapidamente pedem informações financeiras.
Além disso, a polícia incentiva denúncias imediatas. Quanto antes a ocorrência for reportada, maiores são as chances de rastrear os criminosos e evitar que novas vítimas sejam enganadas.
Em comunicado oficial, a PRM reforçou que este tipo de crime é tratado com rigor e que existem equipas especializadas em investigação digital. “Trabalhamos em parceria com plataformas de redes sociais para identificar e remover perfis falsos, bem como rastrear transações suspeitas”, explicou o porta-voz da instituição.
A tendência do aumento de golpes desse tipo está associada à popularização das redes sociais e ao crescimento do comércio digital. Golpistas aproveitam-se da falta de conhecimento digital de algumas vítimas e da facilidade de anonimato online.
Organizações civis e de proteção ao consumidor também têm emitido alertas sobre como se proteger de golpes virtuais. Entre as medidas recomendadas estão nunca enviar dinheiro a desconhecidos, evitar compartilhar informações pessoais sensíveis e sempre desconfiar de perfis com aparência perfeita ou história excessivamente dramática.
Nos últimos dois anos, estima-se que centenas de homens em várias províncias do país tenham sido alvo desse tipo de fraude. A maioria prefere não denunciar por constrangimento, o que dificulta a quantificação exata do problema.
Além do prejuízo financeiro, algumas vítimas relatam que os golpistas utilizam suas fotos e informações para chantagear ou ameaçar familiares, ampliando o impacto do crime.
Casos internacionais mostram que este tipo de golpe pode envolver redes organizadas que atuam em múltiplos países. A Polícia de Moçambique está atenta a estas conexões, reforçando o intercâmbio de informações com forças policiais estrangeiras.
O combate a estes crimes envolve não apenas a atuação da polícia, mas também campanhas de sensibilização da sociedade sobre os riscos das interações virtuais e a importância da educação digital.
A PRM recomenda que, ao menor sinal de suspeita, a vítima interrompa a comunicação, reúna provas das interações e faça a denúncia formal. As informações podem incluir capturas de tela de conversas, fotos do perfil e dados de transações financeiras.
Especialistas alertam que, mesmo após o término da comunicação com o golpista, é importante revisar contas bancárias, senhas e informações pessoais para evitar possíveis acessos não autorizados.
O fenómeno do “catfishing” evidencia a necessidade de desenvolvimento de competências digitais, para que cidadãos possam identificar sinais de fraude e agir preventivamente.
Além disso, as plataformas digitais têm responsabilidade em implementar mecanismos de verificação de identidade e denúncia de perfis suspeitos, contribuindo para a segurança dos utilizadores.
Enquanto isso, a população é encorajada a compartilhar informações sobre golpes conhecidos, ajudando a criar uma rede de alerta que reduza o número de vítimas.
Embora o crime seja virtual, as consequências são reais e podem afetar a vida financeira, emocional e social das vítimas, reforçando a necessidade de cautela e vigilância online.
A PRM e organizações parceiras pretendem intensificar campanhas educativas, com o objetivo de sensibilizar principalmente jovens e adultos que utilizam redes sociais com frequência.
Em síntese, a recomendação central é clara: manter a prudência nas interações online, questionar intenções suspeitas e nunca ceder a pedidos de dinheiro ou informações sensíveis de pessoas desconhecidas.
O combate ao “catfishing” é um esforço conjunto entre polícia, plataformas digitais e sociedade civil, visando reduzir o número de vítimas e aumentar a segurança digital no país.
As autoridades lembram que o anonimato na internet não protege criminosos, e que denúncias e investigação adequada podem levar à detenção e responsabilização legal dos envolvidos.
A situação atual evidencia a necessidade urgente de educação digital e alerta constante para evitar que mais cidadãos se tornem vítimas de perfis falsos e esquemas fraudulentos online.
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