Um caso insólito está a abalar a localidade de Chipene, distrito de Memba, na província de Nampula. Um homem de 74 anos provocou espanto e preocupação ao pedir para ser enterrado vivo, alegadamente como parte de um ritual espiritual tradicional. O pedido, feito de forma voluntária e pública, rapidamente gerou alvoroço na comunidade local, dividindo opiniões entre os que acreditam tratar-se de um ato espiritual e os que veem sinais de perturbação mental ou possível coação.
Segundo relatos de vizinhos, o idoso, cuja identidade não foi revelada pelas autoridades por motivos de privacidade, é conhecido na zona como um praticante fervoroso de rituais tradicionais e espirituais. Fontes locais relatam que, durante uma cerimónia que reuniu familiares e membros da comunidade, o homem declarou que tinha recebido “uma revelação” de que deveria ser sepultado ainda em vida para “alcançar a paz do espírito e purificar a linhagem familiar”.
Testemunhas afirmam que o ancião parecia calmo e convicto da sua decisão, tendo até escolhido o local onde desejava ser enterrado — um terreno próximo da sua residência, supostamente consagrado para práticas ancestrais. No entanto, o pedido não foi recebido com a mesma serenidade pelos presentes. Muitos entraram em pânico, enquanto outros tentaram convencê-lo a desistir da ideia.
“Aquilo que vimos é algo que só se ouve em histórias antigas. Ele disse que os espíritos o chamaram e que estava preparado para partir de forma sagrada”, contou um dos presentes, visivelmente perturbado com a situação.
Após o incidente, líderes comunitários e religiosos locais foram chamados ao local para tentar lidar com o caso. Um dos chefes tradicionais, embora respeite as práticas espirituais da região, considerou o ato como “extremo” e contrário aos princípios de proteção da vida humana. “Nossos rituais têm limites. Enterrar uma pessoa viva nunca fez parte dos nossos costumes. Isto ultrapassa os valores que nos regem”, afirmou.
A situação rapidamente chegou às autoridades administrativas e policiais do distrito de Memba, que se deslocaram ao local para garantir que nenhuma prática ilegal ou que coloque vidas em risco seja levada a cabo. A polícia confirmou que o homem foi retirado da área e levado a uma unidade de saúde para avaliação psicológica.
O porta-voz da Polícia da República de Moçambique (PRM) em Nampula explicou que, embora o idoso tenha agido por vontade própria, é necessário averiguar se houve algum tipo de manipulação, abuso espiritual ou coerção por parte de terceiros. “Não descartamos a hipótese de crime, mesmo que disfarçado de ritual. A vida humana é sagrada e deve ser protegida”, declarou o agente.
A Direção Provincial de Saúde de Nampula também acompanha o caso e promete fornecer assistência médica e psicológica ao homem. Segundo informações preliminares, ele aparenta estar em estado de fragilidade emocional, mas lúcido.
Enquanto as autoridades investigam o episódio, o caso tem gerado debates acalorados em Chipene e nas redes sociais sobre os limites entre cultura, espiritualidade e legalidade. Muitos internautas expressaram indignação, outros demonstraram compreensão pela dimensão espiritual do gesto, enquanto há quem exija ações mais firmes do Estado para prevenir o que consideram práticas perigosas.
Na comunidade, há quem veja o ato como um pedido de socorro disfarçado, talvez reflexo de um estado de depressão ou isolamento. Vários líderes religiosos cristãos da zona também manifestaram preocupação, considerando que práticas extremas em nome da fé ou tradição devem ser questionadas e orientadas à luz dos direitos humanos.
“O que aconteceu aqui não é apenas um problema de rituais, mas uma chamada de atenção para olharmos melhor para os nossos idosos, que muitas vezes vivem em silêncio e abandono”, observou um pastor local.
Por ora, o homem encontra-se sob cuidados médicos e acompanhado por assistentes sociais. A população espera por esclarecimentos adicionais das autoridades nas próximas horas.
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